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A NEUROCIÊNCIA DO MEDO NOS TEMPOS DA COVID-19

A abordagem do momento destina-se à temática da Covid-19 dentro do campo da Neurociência enquanto área que tem como um dos focos o sistema nervoso, principalmente no que tange ao cérebro e sua dinâmica organizacional. Dentre as cinqüenta e duas áreas cerebrais responsáveis pelos estados emocionais destaca-se a região das amígdalas que é responsável pela promoção de decisões e situações de reações, onde os envios de comandos despertam avanços ou recuos.


O medo insere-se nesse contexto enquanto fruto de uma “ameaça invisível” e, dentro do percurso neuroquímico das emoções, tanto para mamíferos superiores quanto para o ser humano, é um fenômeno completamente bruto e primitivo em relação à escala evolutiva do cérebro, visto que esse fato remonta os primórdios da humanidade.

Segundo estudos da Fapesp, de 2002, a partir de uma série de artigos publicados, levantaram evidências de que 3 Estruturas extremamente primitivas (amígdalas, hipotálamo e neocórtex) nessa escala evolutiva cerebral, presentes em espécies animais desde a era dos dinossauros desempenham tarefas fundamentais em situações de risco potencial ou real, antes mesmo de ser acionada a amígdala cerebral. Essas peças primitivas do emaranhado neuronal participam de forma distinta na geração e elaboração de tipos diferenciados de medo.


Ansiedade e medo são importantes componentes das doenças de origem psicossomática e conhecer os circuitos envolvidos em sua elaboração é fundamental para encontrar os novos caminhos de tratamento para os distúrbios.


Porque é difícil controlar o medo e as emoções? Conforme a neurociência é mais difícil controlar a emoção do que a razão. Tais sentimentos como o amor, o ódio, a alegria, a tristeza, a empatia e o medo são aparentemente espontâneos que tomam conta das pessoas independentemente de sua vontade. A chave para entender esse mistério está no fato de haver mais conexões nervosas ligadas à amígdala (estrutura cerebral determinante na resposta física e comportamental ligado ao medo e a outras emoções) ao neocórtex (parte do cérebro responsável pela parte cognitiva e racional), do que conectando o neocórtex à amígdala. Essas duas estruturas se comunicam uma com a outra, porém essa comunicação é assimétrica.



Segundo o neurologista norte-americano Joseph Ledoux, da Universidade de Nova York, renomado estudioso do medo a comunicação assimétrica ajuda a explicar porque a terapia psiquiátrica nem sempre dá bons resultados com vítimas de ansiedade e outros problemas mentais. Um tratamento mais eficiente para esses distúrbios seria, de acordo com os adeptos dessa abordagem, a utilização de drogas que facilitasse a interação entre a amígdala e o neocórtex.


Levando-se em consideração os aspectos mencionados, observa-se que a mídia no desejo de transmitir informações excessivas, que por vezes são sérias e outras confusas, espalha um medo generalizado, que aumenta a insegurança e consequentemente o que de fato venha a ser esse inimigo invisível que tem gerado esse terror mundial.


Essa disseminação de informação sem filtro tem gerado um efeito negativo na saúde mental, desarticulando o pensar a ponto de ocasionar gatilhos ansiogênicos na população mundial. Consequentemente, o medo da morte cresce, já que não existem de fato, dados seguros de como surgiu esse vírus, sua letalidade, transmissibilidade, sua vida e fim o dessa pandemia. Tudo isso acarreta uma cadeia preocupante de doenças psicossomáticas e consequentemente internamentos desnecessários. Fica então a neurociência em busca de uma resposta para uma doença que acomete o mundo inteiro, independe de raça, religião, opção sexual ou classe social.

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